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sexta-feira, 12 de março de 2010

Os livros não mudam o mundo....

"os livros não mudam o mundo. Os livros mudam os homens e os homens mudam
o mundo"

Vale mais que um trocado
Ambulantes, pedintes e moradores de rua não esperam só por dinheiro dos
motoristas parados no sinal vermelho. Sem pagar pra ver, eu vi
"Dinheiro eu não tenho, mas estou aqui com uma caixa cheia de livros. Quer
um?" Repeti essa oferta a pedintes, artistas circenses e vendedores
ambulantes, pessoas de todas as idades que fazem dos congestionamentos da
cidade de São Paulo o cenário de seu ganha-pão. A ideia surgiu de uma
combinação com os colegas de NOVA ESCOLA: em vez de dinheiro, eu ofereceria
um livro a quem me abordasse - e conferiria as reações.
Para começar, acomodei 45 obras variadas - do clássico Auto da Barca do
Inferno, escrito por Gil Vicente, ao infantil divertidíssimo Divina
Albertina, da contemporânea Christine Davenier - em uma caixa de papelão no
banco do carona de meu Palio preto. Tudo pronto, hora de rodar. Em 13
oferecimentos, nenhuma recusa. E houve gente que pediu mais.
Nas ruas, tem de tudo. Diferentemente do que se pode pensar, a maioria
dessas pessoas tem, sim, alguma formação escolar. Uma pesquisa do Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, realizada só com moradores de
rua e divulgada em 2008, revelou que apenas 15% nunca estudaram. Como 74%
afirmam ter sido alfabetizados, não é exagero dizer que as vias públicas são
um terreno fértil para a leitura. Notei até certa familiaridade com o tema.
No primeiro dia, num cruzamento do Itaim, um bairro nobre, encontrei Vitor*,
20 anos, vendedor de balas. Assim que comecei a falar, ele projetou a cabeça
para dentro do veículo e examinou o acervo:
- Tem aí algum do Sidney Sheldon? Era o que eu mais curtia quando estava na
cadeia. Foi lá que aprendi a ler.
Na ausência do célebre novelista americano, o critério de seleção se tornou
mais simples. Vitor pegou o exemplar mais grosso da caixa e aproveitou para
escolher outro - "Esse do castelo, que deve ser de mistério" - para
presentear a mulher que o esperava na calçada.
Aos poucos, fui percebendo que o público mais crítico era formado por
jovens, como Micaela*, 15 anos. Ela é parte do contingente de 2 mil
ambulantes que batem ponto nos semáforos da cidade, de acordo com números da
prefeitura de São Paulo. Num domingo, enfrentava com paçocas a 1 real uma
concorrência que apinhava todos os cruzamentos da avenida Tiradentes, no
centro. Fiz a pergunta de sempre. E ela respondeu:
- Hum, depende do livro. Tem algum de literatura?, provocou, antes de se
decidir por Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
As crianças faziam festa (um dado vergonhoso: segundo a Pre feitura, ainda
existem 1,8 mil delas nas ruas de São Paulo). Por estarem sempre
acompanhadas, minha coleção diminuía a cada um desses encontros do acaso.
Érico*, 9 anos, chegou com ar desconfiado pelo lado do passageiro:
- Sabe ler?, perguntei.
- Não..., disse ele, enquanto olhava a caixa. Mas, já prevendo o que poderia
ganhar, reformulou a resposta:
- Sim. Sei, sim.
- Em que ano você está?
- Na 4ª B. Tio, você pode dar um para mim e outros para meus amigos?,
indagou, apontando para um menino e uma menina, que já se aproximavam.
Mas o problema, como canta Paulinho da Viola, é que o sinal ia abrir. O
motorista do carro da frente, indiferente à corrida desenfreada do trio,
arrancou pela avenida Brasil, levando embora a mercadoria pendurada no
retrovisor.
Se no momento das entregas que eu realizava se misturavam humor, drama,
aventura e certo s uspense, observar a reação das pessoas depois de
presenteadas era como reler um livro que fica mais saboroso a cada leitura.
Esquina após esquina, o enredo se repetia: enquanto eu esperava o sinal
abrir, adultos e crianças, sentados no meio-fio, folheavam páginas. Pareciam
se esquecer dos produtos, dos malabares, do dinheiro...
- Ganhar um livro é sempre bem-vindo. A literatura é maravilhosa, explicou,
com sensibilidade, um vendedor de raquetes que dão choques em insetos.
Quase chegando ao fim da jornada literária, conheci Maria*. Carregava a
pequena Vitória*, 1 ano recém-completado, e cobiçava alguns trocados num
canteiro da Zona Norte da cidade. Ganhou um livro infantil e agradeceu.
Avancei dois quarteirões e fiz o retorno. Então, a vi novamente. Ela lia
para a menininha no colo. Espremi os olhos para tentar ver seu semblante
pelo retrovisor. Acho que sorria.
* os nomes foram t rocados para preservar os personagens.
Daniel Cerqueira Baiardi

Um comentário:

Anônimo disse...

Esclarecimento:
Não sou o autor do texto acima.
Na realidade o recebi via e-mail e o enviei para a minha mãe. Neste processo, minha caixa de e-mail colocou meu nome no final da mensagem. Minha mãe, por sua vez, encantada com a sua beleza, encaminhou-o para outras pessoas.
Vou procurar esta mensagem para dar os devidos créditos ao seu verdadeiro autor.
Atenciosamente,
Daniel Cerqueira Baiardi

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